1ª Parte - Iniciação
No começo do campeonato de Enduro, prevalecia o fomato de provas de Enduro que, combinadas com outras de curtos troços cronometrados e designadas por Moto-Rali - criadas pelo Clube 100 à Hora – componham um campeonato nacional. Foi esse panorâma que escolhi para entrar no motociclismo desportivo, alcançando o ceptro de Vice - Campeão da modalidade em 1986.
O contacto com a natureza, os passeios de fim-de-semana pela serra, tinham despoletado a modalidade e, com muita carolice e inspiração os distritos de Lisboa, Figueira da Foz, Tomar, Porto e Viana do Castelo reuniam cada vez mais praticantes. Até esse ano de 1986, todo o investimento era pessoal, aqueles que como eu estiveram nos anos pioneiros do Enduro, sabiam que muito havia a fazer para e passar dos apoios de pequenas empresas locais as outros de maior dimensão… A solução, única, era ser o primeiro como o fizeram e 1983 nas respectivas classes, os vencedores do primeiro campeonato de Enduro: José Projecto (Classe 4 /+ 125cc Competição), António Machado (Classe 3 /Até 125cc Competição), Vítor Coelho (Classe 2 /+ 50cc Série) e Alexandre Pires (Classe 1 /Até 50cc).
Depois de uma estreia auspiciosa no moto-rali STP de Sesimbra de 1983, onde fui 12º com a fantástica Confersil Enduro 50 e no moto-rali de Alenquer de 1984 onde era 3º da Classe 1 quando a prova foi anulada devido ao mau tempo, sentia na pele durante esses anos pioneiros do enduro, o amadorismo… a preparação da moto até altas horas da madrugada, os regulamentos mais ou menos vigiados e o somatório dos tempos em prova feitos de caneta em punho... amadorismo natural de tudo o que começa... é natural.
E lembro-me, na primeira selecção nacional de sempre para os ISDE Trophy– os famosos “Seis Dias” de Enduro – todos os dez participantes desistiram! Mas passo a passo, à carolice e ao amadorismo de todos nós sobreponha-se um mundo em mundança: lá fora o rali Dakar ganhava dimensão com uma aposta em força da Yamaha e das marcas auto enquanto cá dentro as fábricas nacionais de ciclomotores (Casal, SIS-Sachs, Macal, Famel Zundapp, etc.) se desdrobravam num vão esforço para a concorrência da liberalização do mercado em 1986. Chegavam as motos japonesas em força, a Yamaha primeiro e logo em seguida a Honda, traziam padrões de qualidade abriam novos horizontes à competição. E para as "cinquenta", a fábrica Macal-Minarelli apostava uns milhares de contos para a contenda do campeonato de Enduro de 1986 com um total de 4 pilotos.
1985: UMA YZ 125 '81 PARA TREINAR
Sem outro recurso à vista e com muitos “contos de reis” derretidos em quadros destruídos e motores partidos e com a mecânica vítima dos trilhos mais demolidores que se sucediam de ano para ano, a solução que o meu pai idealizámos em 1986, passaria pela fórmula de “um bom quadro e um bom motor”. Eu pela minha parte, queria compensá-lo com vitórias (coisa que ainda hoje não sei se alguma vez ele acreditou!), queria uma moto para correr ou treinar... mas de 125cc. E assim, algo contrafeito na minha "correria" dos 18 anos fiz-lhe uma promessa no final de 1985: "Mantenho-me nas ´cinquenta` mas quero vencer e vou completar o liceu à noite, está descansado”.
Desenvolvida durante um periodo de 3 anos uma Yamaha YZ 125 de 1981 foi a minha primeira moto de motocross. Foi também a primeira Yamaha do género com arrefecimento líquido ao motor e na posição mais estranha que alguma vez conheci: o radiador de alumínio estava montado no T da suspensão na rectaguarda do frontal deflector, canalizando o líquido de arrefecimento pelo quadro até ao motor (junto ao eixo da direcção), sistema inédito que segundo a marca evitava o aquecimento excessivo e consequente perda de rendimento durante as provas. Desta forma, a Yamaha, respondia à escalada de potência no motocross de 125cc, debitando o motor YZ cerca de 30 CV às 10.500 rotações... já com caixa de 6 velocidades.
Infelizmente, nunca cheguei a experimentar este motor em competição, mas lembro-me como hoje, das ajudas que me prestou quando treinava nas pistas e trilhos do litoral alentejano, ensinando-me a aproveitar em pleno a potência numa parte-ciclística distinta, volumosa é certo mas com suspensões para todo o piso e com um motor que em aceleração fazia o pleno... linear de baixos a altos regimes.
A minha moto tinha um quadro antigo face às YZ 125 Monocross de 1986, embora suficiente para debelar com um motor alemão e peças originais “Sachs 6 transfers” (o regulamento de Enduro permitia esta combinação quadro/motor distintos) o protagonismo dos meus adversários da Macal: Eugénio Cação, José Carvalho, Jorge Silva e Ernesto Caetano.
Incluíndo em 1985 um pequeno Sachs com carburador Dell’Orto 22 no porte grandioso do quadro YZ 125 (com Cantilever, suspensões de 300 mm e 94 kg de peso a seco), este motor voltaria a ceder por mais uma vez no final de 1985… mas a desistência na subida extrema da Figueira da Foz foi também permonitória de mudança, porque foi o ponto final da série de desistências em catadupla que tivémos. 1986: UMA "YZ-SACHS" VICE-CAMPEÃ DE ENDURODo ponto de vista desportivo, no ano seguinte a híbrida YZ/Sachs que tanto sono tirou a mim, ao meu pai e ao mecânico, haveria de nos dar muitas e muitas alegrias. E no que me toca cumpri tudo aquilo que havia dito: 1986 foi o ano em que venci a minha primeira prova (Reguengos de Monsaraz), o ano em que subi por 5 vezes ao pódio e o ano em que dei o título oficial de Vice-Campeão de Enduro ao motor Sachs justificando as apostas da SIS-Sachs e da Castrol em mim. Huum... e não me posso esquecer disto... acabei o liceu sem muitas "mossas" nas notas e ainda organizei uns passeios TT para todos nos divertimos no verdejante litoral alentejano. Quanto ao segredo para o resultado desportivo, não sei se estaria na minha inspiração no Ayrton Senna e nas poderosas máquinas do rali de Portugal que passavam pela serra de Sintra, ou se pela própria realidade que eu e o meu pai criámos no Team TT Stº André com um motor ganhador e um fabuloso quadro japonês? Creio que foi um misto disto tudo e de toda uma equipa que puxou sempre para o mesmo lado... Obrigado.AgradecimentosAo pai António Ferreira (Coordenador da equipa), Carlos Magalhães (Mecânico) e empresas SIS-Sachs, Castrol e Fonsecas & Fabião (Carro de apoio e deslocações); ao Miguel, à Belinha e a todos os amigos de V.N. de Stº André que me incentivaram para esta contenda. Aos jovens praticantes Acreditem sempre, lutem por um objectivo e se forem supersticiosos, escrevam ou desenhem algo que vos incentive como também eu fiz... foi uma frase romana, apropriada a esses tempos da Guerra Fria! Hoje, as taças e peças que guardo religiosamente desses tempos, são recordações para sempre. E hoje, controlo os meus níveis de adrenalina com um sossêgo que nem só o passar dos anos transmite... esse controlo vem também de uma "preparação” que só a competição a alto nível confere. Pratiquem desporto e consigam um auto-controlo para toda a vossa vida. Só assim se tornam verdadeiros campeões!YAMAHA YZ 125 H (1981) FICHA TÉCNICA Motor monocilíndrico a 2 Tempos e refrigeração líquida
Alimentação carburador Mikuni 32 mmCaixa 6 velocidadesArranque PedalPotência 30 Cv às 10.500 r.p.m.
Parte ciclística quadro simples berço desdobrado em açoAmortecimento (F/T) Kayaba com curso de 300 mm; sistema cantilever com amortecedor, 300 mm
Travagem (F/T) Tambor de 130 mm; tambor de 130 mm
Capacidade depósito 6,5 l. Peso total (a seco) 94 kg
Moto-Rali de Monsaraz, 1º lugar (1986); Enduro Viana do Castelo (1986)
Em 1989, a última preparação Antes da competição (1985) A YZ 125 Série Especial '81
na YZ 125
Com a Confersil Sachs de série em 1984 no moto-rali STP de Sesimbra
O MEU PALMARÉS
1984 - Classe 1 (50 cc), 17 anos com Confersil Sachs Enduro: Sesimbra 12º
1985 - Classe 1 (50 cc), 18 anos com Confersil e proto YZ/Sachs: Sesimbra - Desistência; Reguengos de Monsaraz - Desistência; Figueira da Foz - Desistência
1986 - Classe 1 (50 cc), 19 anos com proto Yamaha YZ/Sachs: Trafaria - 2º; Monsaraz - 1º; 2 Dias Figueira da Foz - 2º; Alenquer - 3º; Bairrada - 2º; 2 Dias Tomar (Desclassificado no 1º dia); Viana do Castelo - Abandono; Évora - 4º Resultado final do Campeonato de Enduro: 2º (Vice-campeão)
1986 - Final do Regional Sul de Motocross: 2º classificado